
11 fev Um olhar feminino sobre o universo científico
11/02/2022
No Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, uma data tão simbólica, entenda o ecossistema científico sob o olhar de uma das milhões de cientistas espalhadas pelo mundo
Desde 2016, o dia 11 de fevereiro é conhecido como o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência. A data foi estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em busca de maior destaque à pauta.
Segundo a ONU, estima-se que somente 30% dos pesquisadores do mundo são mulheres, e a data é uma maneira de fortalecer os esforços para sobrepor as barreiras que ainda existem neste universo, com o objetivo de que a participação das mulheres seja mais igualitária.
Nesta data importante, ninguém melhor para falar sobre este cenário científico do que uma cientista mulher. O BiotechTown convidou a Coordenadora do Open Lab, Pollyana Carvalho, para contar sua trajetória e compartilhar suas impressões. Pollyana é graduada em Ciências Biológicas pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, com mestrado em Microbiologia pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Trajetória
“Eu sempre fui apaixonada por Biologia. Era a matéria que eu tinha mais afinidade e eu tinha uma professora muito incrível, chamada Ana Lúcia. Mas o curioso é que a primeira referência de Ciência que me chamou atenção foi uma professora de Química, no primeiro ano do ensino médio, a Cristiane.

Pollyana durante sua apresentação no “XVIII Internatcion Congress for Tropical Medicine and Malaria”
As aulas da Ana Lúcia e da Cristiane me fizeram tomar gosto por Ciência. Foi nesta época que eu decidi que essa seria minha profissão. Então eu entrei para a faculdade, que foi um mundo totalmente novo pra mim. Um processo totalmente diferente daquilo que vivemos na escola.
Fui fazendo estágios e minha primeira oportunidade científica, na prática, foi na Funed (Fundação Ezequiel Dias), na Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento.
Lá eu trabalhava com prospecção de antivirais, nas linhas de dengue e rotavírus, que são doenças que ainda hoje afligem o Brasil. E foi muito enriquecedor ir pra bancada e ter o desafio do experimento que não dava certo e que “obrigava” a gente a sair da caixinha e a pensar diferente, e a comemoração de um resultado obtido, das novas descobertas. E lá tive mais uma referência feminina, pois nosso laboratório era chefiado por uma mulher, a Dra. Alzira.
Essa oportunidade me abriu outras portas para trabalhar com a Ciência de maneiras diferentes.
Também fui professora de Biologia no Ensino Médio de uma escola estadual durante um ano letivo. Assim como as minhas professoras me incentivaram a ser quem sou hoje, acredito que é parte fundamental da Ciência transmitir o que sabemos para outras pessoas, e eu tive essa oportunidade. Foi um aprendizado intenso, com todas as limitações que o ensino público possui. Mas o que mais me marcou é que os alunos eram ávidos por conhecimento! Ainda os acompanho nas redes sócias e me alegra que hoje muitos deles estão formados.
Depois fui trabalhar na Myleus, uma startup que oferecia serviços de controle e fraude em alimentos por substituição de espécies. Na Myleus, eu consegui colocar o
P&D em prática! Atuei na padronização de um teste de biologia molecular para aplicação em fraudes em produtos cárneos. Na Myleus eu vi a ciência ofertada como serviço. E mais uma grande referência feminina na minha vida, a Marcela, CEO da empresa. Mulher incrível!

Pollyana durante sua passagem pela Myleus
Ainda passei pela Thermo Fisher Scientific, que é referência mundial em instrumentação científica. Na Thermo fui assessora científica para a área de eletroforese capilar. Saí um pouco da bancada para ensinar as técnicas de sequenciamento e análise de fragmentos para outros profissionais. E uma das coisas mais legais durante essa minha temporada na Thermo era ir de um laboratório pra outro, conhecer as pesquisadoras e as linhas de atuação de cada uma, ver que a ciência no nosso país acontece e prospera com o esforço dessas pessoas. E mais uma vez, uma gestora feminina, a Daphine, que me apresentou o mundo corporativo!
Hoje eu coordeno o Open Lab, laboratório compartilhado do BiotechTown que fornece uma estrutura analítica muito robusta para que outras empresas e pessoas possa desenvolver seus projetos de PD&I

Pollyana atuando no Open Lab do BiotechTown
A minha missão aqui é garantir que essa infraestrutura esteja em pleno funcionamento, com a máxima qualidade exigida pelos nossos usuários. O pesquisador não precisa se preocupar com rotina burocrática de gerir um laboratório ou se o equipamento está funcionando ou não, ele usa o tempo dele para pensar em ciência, em inovação!
Hoje, especificamente eu não vou mais para a bancada, até sinto muita falta! Mas comemoro com cada cliente as conquistas que eles têm e aprendo um pouquinho com cada um deles, porque sempre são projetos inovadores e com muitos desafios!”
As mulheres na Ciência
“Sempre que procuro estudar sobre o assunto, eu reparo que grande parte dos artigos que falam sobre a mulher na ciência são justamente relatando a dificuldade que nós temos. E isso é histórico, não tem como negar, como o caso da Marie Curie, que precisava publicar artigos com pseudônimos ou com apoio de seu marido.
Temos desafios muito diferentes, que homens não têm. Na minha trajetória notei que somos muito mais questionadas em relação a competência e responsabilidade, por exemplo. Ainda não temos um cenário igualitário, mas estamos caminhando e conquistando nosso lugar.
A gente vem, passo a passo, conquistando lugares de destaque. O cenário de hoje é melhor do que o cenário de quando eu comecei a minha carreira, há cerca de 14 anos, mas ainda há desafios, há muitas barreiras que precisamos transpor. Cada mulher que contribui, nem que seja um pouquinho, muda para melhor essa perspectiva.
Temos muitas mulheres que impactam o cenário científico no Brasil, que trazem resultados incríveis. Por exemplo, foram duas cientistas que lideraram o sequenciamento da primeira amostra de Covid-19 no Brasil. Este tipo de conquista é importante não somente para a cientista, mas para todas nós que estamos neste meio.
E eu acredito que cada mulher que trilhou este caminho, que veio antes, deixa uma pétala no caminho, para que o nosso e o das que vierem depois seja mais leve, mais fácil.”
Como contribuir para as mulheres na Ciência
“Acredito que ser uma cientista atuante já é um passo importante em prol do avanço da presença feminina neste universo. Cada graduação de uma nova cientista é um passo, uma nova conquista profissional é outro, um empreendimento é outro… E assim vamos avançando aos poucos.
Hoje enxergo que o Open Lab do BiotechTown, por ser uma estrutura com acesso facilitado, é uma ótima alternativa para democratizar ainda mais a Ciência. Atualmente, 90% das nossas clientes são mulheres e a nossa equipe é 100% feminina. Isso é muito legal, porque mostra que estamos no caminho certo, que estamos conseguindo dar mais representatividade para as cientistas mulheres.

Laboratório de Biologia Molecular, um dos cinco espaços do Open Lab
Além disso, por ser um laboratório compartilhado, o Open Lab é capaz de formar uma rede colaborativa, e isso é um grande auxílio não somente para as mulheres, mas para a Ciência como um todo.”
Um recado para quem está começando
“Meu conselho é que precisamos manter sempre esse “incômodo” de sempre querer saber mais. Cada descoberta traz consigo outras possibilidades e cada vez que você aprende algo novo, é uma satisfação diferente.
O mundo é cheio de possibilidades e o conhecimento está aí para quem o procura. A internet trouxe um acesso à informação de maneira muito dinâmica e rápida, e isso traz benefícios. O importante é saber utilizar essa ferramenta de maneira correta, buscar aquilo que vai nos agregar valor .
Então meu recado é: nunca se acomode, sempre busque aprender coisas novas, tenha avidez por conhecimento, porque por mais clichê que essa frase seja, conhecimento nunca é demais.”
O BiotechTown
O BiotechTown está totalmente inserido no universo científico. Além de se basear em conhecimento científico para acelerar startups de biotecnologia e Ciências da vida, o hub de inovação oferece ao mercado uma estrutura de laboratório compartilhado e uma planta produtiva para diagnóstico in vitro, suportando a cadeia de bionegócios de ponta a ponta.
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