Ventiladores pulmonares no pós-pandemia: como a engenharia clínica pode salvar vidas
19/01/2022

Ventiladores pulmonares no pós-pandemia: como a engenharia clínica pode salvar vidas
19/01/2022

Por Daniel Moura

Com a queda dos casos de internação por Covid-19, os ventiladores pulmonares começam a ter seu valor tecnológico reduzido. Confira as melhores práticas para potencializar o uso destes e de outros equipamentos médico-hospitalares

 

Assim como no início da pandemia, os hospitais continuam se apresentando de prontidão com Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) e enfermarias focadas na resposta imediata a novas ondas que possam advir de futuras mutações do coronavírus.

Se na primeira onda houve grande procura por ventiladores pulmonares e outros equipamentos médicos em uma corrida para expandir a oferta de leitos de UTI, agora, com o avanço da vacinação da população e a redução da taxa de novas internações, percebe-se a gradativa queda do valor de tais tecnologias.

Esse fenômeno reduziu não só o valor do patrimônio tecnológico até então investido nos hospitais, como também impôs a eles o legado de um maior custo operacional devido ao consumo de suprimentos, como energia, água, medicamentos e gases medicinais, em especial o oxigênio. Assim, mesmo que os hospitais consigam conquistar recursos por agora, é de bom senso poupar ao máximo sem perder qualidade nos serviços.

Neste artigo, serão apresentadas as melhores práticas desenvolvidas durante a pandemia e que podem ser facilmente implementadas no ambiente hospitalar para maximizar o retorno de investimento efetuados em ventiladores pulmonares.

 

A importância de adiantar-se aos recalls

Diante da demanda de novos ventiladores pulmonares, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) flexibilizou uma série de regras para que os produtos fossem regularizados e suprissem o mercado mais rapidamente. Contudo, é fato que muitos fabricantes, de todos os portes, enfrentaram desafios singulares para cumprir com as entregas e o risco recaiu sobre os hospitais.

Uma empresa de grande porte – que não terá seu nome citado – recebeu uma determinação da Anvisa apontando que os sensores que determinam o volume de oxigênio que preencherá os pulmões estavam apresentando valores acima do que é seguro, ou seja, os pulmões poderiam “estourar” como um balão de festa que é soprado além do que suporta. A lesão causada ao paciente é imediata e tem nome: barotrauma. Esse diagnóstico eleva o risco de morte e implica em ocupação do leito por mais tempo, impedindo a aceitação de novos pacientes.

Ventilador pulmonar que compõe o sistema de anestesia operatória durante processo de calibração com o Aclin-Check

Outra empresa de grande porte – que também não será nomeada – perdeu bastante do seu valor de mercado ao anunciar que produtos comercializados em todo o planeta deveriam ser recolhidos devido à presença de partículas cancerígenas que estavam se alojando nos pulmões dos pacientes. As partículas são resultado da deterioração de uma espuma de revestimento interno e o efeito de sua absorção pelo organismo dos pacientes, ao contrário do barotrauma, pode levar bastante tempo para se manifestar na forma de câncer. Nestes casos, os familiares dos pacientes precisam ser comunicados da exposição, mesmo que cuidados como uso diário de filtros HME (Heat and moisture exchanger, ou trocador de calor e umidade, em uma tradução livre) sejam tomados, e um longo processo de acompanhamento do paciente deve ser implementado pelo hospital.

Além de se tratar de vidas humanas, os riscos de mau funcionamento de ventiladores pulmonares para os hospitais são de imagem, financeiros e cíveis e, por isso, quanto mais rápido forem mitigados pelas ações de recall, melhor.

Funcionários de um hospital municipal no estado de São Paulo relataram à mídia casos de pelo menos 13 mortes de pacientes com Covid-19 que estão sendo investigados pelo Ministério Público. A suspeita é de que as mortes tenham sido causadas por defeitos dos aparelhos. A Anvisa, de sua parte, suspendeu de forma cautelar a comercialização e uso deste modelo de respirador em todo o território nacional até que os casos sejam esclarecidos. Isso privou o hospital dos leitos que empregavam tais tecnologias, implicando em falta de cobertura dos serviços à população, além de lucro cessante.

Apenas acompanhar os comunicados de recall não evitará que os pacientes de um hospital sofram com defeitos como os apresentados por estes produtos, por isso é importante que o hospital se adiante, agindo com liderança e proatividade. Para isso, a equipe de engenharia clínica deve ter presença assegurada na UTI para fazer a calibração das tecnologias antes da rotina diária, demonstrando para a equipe de fisioterapia e demais profissionais de enfermagem que tudo está tudo pronto para receber o paciente com segurança.

 

O bom uso do oxigênio pode salvar mais vidas

É fato conhecido que o ventilador pulmonar não surtirá efeito adequado se o suprimento de oxigênio não for suficiente, ou seja, se não estiver com a quantidade e qualidade definida e controlada. Vimos isso durante as ondas da pandemia, quando jornais noticiaram a falta do gás medicinal, chocando toda a sociedade com as mortes por sufocamento.

Considere o caso do defeito relatado no ventilador pulmonar da empresa X, por exemplo: se o sensor permite que volume maior que o necessário de oxigênio vá para o paciente, o consumo de oxigênio será maior a cada leito de UTI, e por consequência, os custos hospitalares também serão mais altos.

Vazamentos nos tubos e válvulas de um ventilador pulmonar podem aparecer sem aviso uma vez que são provocados pelo uso no dia a dia. Tais vazamentos, quando ocorrem, são compensados pela maioria dos ventiladores pulmonares. Porém, no processo, passa-se a gastar oxigênio por dois pacientes ou mais dentro de um único leito de UTI, além de custos indiretos, como maior necessidade de energia elétrica e de manutenção.

Ainda, se o oxigênio não for absorvido totalmente pelos pacientes, ele é expelido pelo ventilador pulmonar, resultando em ambientes com mais oxigênio que o normal. Isso foi estopim para incêndios nas UTIs de vários hospitais pelo mundo.

Logo, a boa prática seria adotar a melhor maneira de prevenir cenários assim, ou seja, solicitar à equipe de engenharia clínica inspeções constantes nos leitos da UTI.

 

Leve a manutenção até o equipamento, não o contrário

Calibração de monitor de sinais vitais

Ventiladores pulmonares funcionam dias seguidos, sem descanso. Para isso, usam as fontes de energia disponíveis. Dentre elas está a pressão dos suprimentos de gases, a rede elétrica e as baterias. Os modelos eletrônicos, que possuem alarmes audiovisuais, precisam carregar a bateria na rede elétrica. Com o tempo, a bateria pode ter a sua autonomia reduzida e necessitar de reposição.

Para esses casos, a equipe de engenharia clínica pode realizar a troca na sala de equipamentos da UTI, por meio de manutenções programadas, poupando o trabalho de deslocar o ventilador pulmonar para outros setores e agilizando a sua disponibilidade. É mais eficiente e seguro.

 

 

O avanço da cybersegurança

Com o aumento no número de leitos na UTI, as centrais de monitoramento passaram a recolher e apontar alarmes numa grande tela. Para isso, os ventiladores pulmonares são conectados via redes de dados, muitas vezes com conexão sem fio.

Embora sejam mais práticas de se instalar, sabe-se hoje que essas redes de dados podem sofrer ataques digitais por outros terminais que estejam ao alcance. A pandemia fez com que muitos negócios fossem impulsionados pela internet e, com isso, aumentaram os registros de vírus e afins.

Por isso, é altamente recomendável que sempre qualquer programação de parâmetros da terapia se dê por hardware, que seja operado por um profissional da saúde diante da tela do ventilador pulmonar, e não via comandos por rede de computadores. Pelos mesmos motivos, no caso de uma atualização de software do produto, a operação deve requerer a presença física do suporte técnico do fabricante.

Tal cuidado vale também para outras tecnologias hospitalares que podem afetar o tratamento do paciente, como cardioversores, bombas de infusão, monitores de sinais vitais, marca-passos implantáveis e até analisadores/simuladores usados pela engenharia clínica.

Mesmo os fabricantes não devem ser capazes de acessar remotamente seus produtos, blindando totalmente os sistemas e tornando-os mais seguros e independentes.

 

Utilize a Engenharia Clínica

Todo serviço de engenharia clínica dentro do hospital começa simples e com recursos humanos locais: no início bastam um profissional de nível superior com foco em administração para iniciar o gerenciamento das tecnologias, negociando e contratando fornecedores, e um técnico em eletrônica com um pequeno kit de ferramentas para problemas simples, prestar o primeiro atendimento e acompanhar a prestação de serviços de manutenção dos fornecedores de assistência técnica, de modo a guiar as soluções prestadas rumo à durabilidade e segurança.

É comum também que os hospitais que estão nessa fase contratem fornecedores de serviços de assistência técnica para realizar as atividades que o técnico local ainda não tem ferramentas para desempenhar.

Tudo bem enquanto o hospital tem poucos leitos de UTI. O fornecedor até consegue designar dois ou três técnicos para desempenhar a calibração em um único dia com analisadores biomédicos grandes, pesados e específicos para cada tipo de tecnologia: um analisador para o ventilador pulmonar, um para o desfibrilador, um para a bomba de infusão, cinco para o monitor de sinais vitais, um para o bisturi elétrico, um para aparelho móvel de raios-x, um para máquina de hemodiálise, etc.

Porém, com o crescimento do hospital, é natural que novos requisitos de qualidade pressionem a administração a adotar novas estratégias de engenharia clínica. Com isso em mente, não tarda para a administração hospitalar tender a adotar a terceirização de todos os serviços de engenharia clínica com o objetivo de trazer os meios do fornecedor para dentro do hospital, seguindo o que instituições públicas fazem há muito tempo.

Contudo, esse método eleva os custos por vários motivos administrativos, como pagamento de horas extras; o risco de fiscalização e multa pelos órgãos responsáveis, uma vez que o responsável técnico necessita de registro no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia; a taxa de disponibilidade simultânea de analisadores e simuladores necessários, etc.

Aclin-Check sendo utilizado para validar um oxímetro de pulso

Porém, há outra estratégia para o upgrade na engenharia clínica: contratar um consultor de gestão de tecnologias experiente para mentorias e capacitação da equipe de profissionais do próprio hospital, ou seja, sem a necessidade de realizar contratos de terceirização de consultoria de engenharia clínica e assim deixando o hospital livre da fiscalização do CONFEA/CREA no quesito de contratos de engenharia.

Com um portfólio de mais de 400 clientes, a Aclin se apresenta como uma potencial parceira para os hospitais, clínicas e empresas de assistência técnica, oferecendo o Aclin-Check, equipamento portátil que substitui mais de 20 analisadores e simuladores biomédicos e calibra praticamente todos os equipamentos médico-hospitalares, com certificados de calibração gerados pelo sistema integrado Aclin.

Conheça mais sobre as soluções para calibração hospitalar em www.aclin.com.br

 



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