06 dez Uma micotoxina no seu café: a Ocratoxina A
06/12/2022
Os desafios do mercado brasileiro em exportação de café
O café está entre os alimentos mais exportados pelo agronegócio brasileiro, sendo o Brasil o maior produtor e exportador de grãos de café e o segundo maior consumidor desta bebida no mundo.
Segundo os relatórios do mercado cafeeiro da Organização Internacional do Café (International Coffee Organization – ICO), embora o Brasil seja um dos principais contribuintes de exportação de café, o mês de março de 2022, por exemplo, foi caracterizado por uma queda na exportação devido a problemas no armazenamento em contêineres durante o transporte, o que também influenciou na queda do valor do mesmo. Logo, o monitoramento logístico é de extrema importância a fim de evitar prejuízos econômicos na exportação.
Você já ouviu falar que somente o café com qualidade é exportado e o que consumimos no Brasil é de menor qualidade? De forma geral, esta é uma realidade. Pois bem, aparentemente, os consumidores estrangeiros se preocupam mais em consumir produtos que não causem danos à saúde. Isto, na verdade, é um reflexo das diferentes legislações existentes, especificamente quanto aos limites máximos toleráveis, de ocratoxina A (OTA) em café para cada país, o que gera um entrave na sua comercialização.
No Brasil, por exemplo, o limite máximo tolerável (LMT) para a presença de OTA em café torrado, moído ou solúvel é de 10 µg/kg, enquanto que na União Europeia o LMT é de 5 µg/kg. Uma diferença de 50% de micotoxina faz toda diferença para o nosso organismo, não é mesmo?
Conheça a ocratoxina A
As micotoxinas são substâncias tóxicas produzidas por algumas espécies de fungos que contaminam os alimentos causando doenças ou mortes quando ingeridas pelo homem ou animal.
A produção destas toxinas a partir de fungos pode ocorrer durante o crescimento, colheita ou estocagem do alimento e, mesmo após a eliminação do fungo, as micotoxinas podem permanecer no alimento, o que dificulta seu controle. Tendo-se em vista a grande quantidade de micotoxinas existentes, há a necessidade de vários procedimentos para detectar e quantificar estes compostos nos alimentos antes do consumo.
Existem micotoxinas que apresentam alto risco à saúde humana e animal, uma delas é a ocratoxina A (OTA) que vem sendo comumente encontrada no café cultivado no Brasil.
Tendo-se em vista a dificuldade de remoção desta toxina dos grãos, a melhor alternativa é a prevenção do crescimento fúngico durante a colheita, processamento, armazenamento e transporte. Porém, como o controle é muitas vezes falho, a exportação do café é barrada pela presença desta substância nos grãos, levando assim a uma preocupação nacional no âmbito econômico e de segurança alimentar.
O que diz a legislação?
Atualmente, a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) possui o Programa de Qualidade de Café (PQC) que certifica as empresas quanto a à qualidade do produto final por meio de análises sensoriaisl e de pureza. Dentro da legislação da PQC, a ABIC recomenda que as empresas realizem a análise da micotoxina ocratoxina A para que o produto esteja abaixo do LMT de 10 μg/Kg, contudo, este monitoramento é realizado através de laudos enviados pelas empresas de forma anual, gerando uma defasagem/informação pouco confiável.
Como o mercado se comporta diante deste desafio
Segundo pesquisa de mercado realizada pela Enzytec, empresa que oferece serviços especializados em pesquisa e desenvolvimento e assuntos regulatórios em biotecnologia, a procura por testes de ocratoxina A por produtores é muito baixa, e a maior procura pelo produto ocorre pelas indústrias que ofertam alimentos processados aos consumidores. Mesmo nestes casos, os testes não são esporadicamente realizados por conta da redução de custo, ainda que estas indústrias estejam passíveis de serem fiscalizadas. Estas mesma indústrias, apesar de se ausentar na prática de uma eficaz metodologia de fiscalização, afirmam que as boas práticas de fabricação do café realizadas são capazes de proteger o produto de contaminação por micotoxinas.
Embora o enfoque deste texto seja a contaminação dos grãos de café, outros alimentos também podem conter a micotoxina OTA. No ano de 2020, por exemplo, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) bloqueou mais de 140 toneladas de uvas passas contaminadas com ocratoxina A acima do limite permitido. Logo, a OTA não é somente encontrada no café, mas também em cereais, frutos secos, cacau, uvas, e processados, como vinho, cerveja ou sumos de fruta.
No geral, para que haja controle da presença de OTA nos alimentos, há a necessidade de coletar amostras e enviá-las aos laboratórios para análise. Contudo, esta análise não é realizada de forma imediata e demanda tempo, dinheiro e risco de maior contaminação durante o armazenamento do alimento enquanto aguarda o resultado. Nesta perspectiva, há uma necessidade de métodos sensíveis, eficientes e rápidos para monitorar a exposição a estes componentes.
A Nano Smart oferece sua solução ao mercado
A Nano Smart, startup brasileira especializada em sistemas de detecção inteligentes, desenvolveu um biossensor que detecta a presença da micotoxina ocratoxina A em tempo real, com resultados confiáveis, baixo custo e sem a necessidade de mão de obra especializada para a análise. A leitura do resultado é realizada a partir de um aplicativo de celularque gera laudos, relatórios individualizados e armazena informações.
O propósito da startup é democratizar as análises de forma descentralizada para monitoramento e tomada de decisão imediata, auxiliando assim em uma testagem rotineira com consequente diminuição dos embargos na exportação, além de proporcionar um controle da qualidade do café para consumo.
O biossensor produzido especificamente para análise de micotoxina no café, poderá ser utilizado por exportadores, classificadoras, produtores e marcas de café. Para as marcas de café, inclusive, a Nano Smart irá fornecer um selo atestando que o lote do produto está livre do contaminante, visando gerar credibilidade, agregar valor e qualidade para a marca.
Resultados para além do café
Embora o nicho de atuação atual seja a detecção de contaminantes do café, o mercado de atuação da Nano Smart vai além, podendo alcançar feijões e outras sementes secas das leguminosas, frutas secas e desidratadas, especiarias, cevada, vinhos e seus derivados, suco e polpa de uva, suco e polpa de maçã, leite e produtos lácteos e até ração animal. A Nano Smart também está desenvolvendo um biossensor para detectar o agroquímico glifosato, que é carcinogênico, hepatotóxico, neurodegenerativo, além de gerar prejuízos no sistema cardiovascular e distúrbios no sistema reprodutivo (como por exemplo, infertilidade).
Com o comprometimento de auxiliar na segurança alimentar através de soluções exclusivas e de alta qualidade para garantir a evolução da sociedade e contribuir para um consumo consciente, a Nano Smart está em processo de aceleração pelo BiotechTown, e atualmente realiza testes de seus produtos junto a clientes da cadeia do café. Ainda, a Nano Smart lançou recentemente na Semana Internacional do Café o seu kit de teste rápido capaz de detectar no café a ocratoxina A.
Sobre a autora
Ana Luiza Resende é graduada em Engenharia Biotecnológica pela UNESP, possui mestrado e doutorado em Engenharia Química pela UNICAMP – Doutorado sanduíche no Departamento de Engenharia Química da Universidade de Coimbra, Portugal. Em 2017, após finalizar o doutorado, foi professora substituta na UFES e entre 2018 e 2021 fez pós doutorado em Biotecnologia na UFES. Em 2022 se tornou empreendedora, assumindo a gestão da startup Nano Smart.