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Revestimentos Comestíveis Aplicados na Redução das Perdas de Alimentos
15/12/2022

Revestimentos Comestíveis Aplicados na Redução das Perdas de Alimentos
15/12/2022

Por Luan Rios

Entenda o que são e como podem contribuir para a redução das perdas de alimentos no estágio pós-colheita

 

Os revestimentos comestíveis são camadas finas de componentes biodegradáveis aplicados em frutas, legumes e verduras (FLV) no estágio pós-colheita, funcionando como bloqueadores da umidade e do oxigênio sem afetar os componentes originais do alimento. São capazes de promover proteção contra danos mecânicos, químicos e microbianos, ao mesmo tempo que impedem a fuga de voláteis vantajosos e mantêm o aspecto estético do produto.

Os revestimentos comestíveis são geralmente baseados em materiais comestíveis, de preferência de fontes naturais, com utilização de solventes adequados e compatíveis com a formulação. Contudo, são por vezes assimilados apenas para um determinado tipo de cultura devido às particularidades de cada tipo de fruto. Os componentes devem ser cuidadosamente selecionados para assegurar uma adesão sem falhas, uma elevada proteção microbiana, preservação das propriedades apropriadas de troca de gás e umidade, e, o que é importante, características visuais e gustativas. Além disso, é preciso alcançar um preço condizente e com tecnologia dentro das expectativas do setor pós-colheita. Vários revestimentos à base de polissacarídeos cumprem com os requisitos mencionados. É, portanto, um segmento promissor e em crescimento, pois tem grande potencial para combater as graves perdas e prejuízos ao setor pós-colheita.

Representação de atuação de revestimento comestível contra fatores que promovem a degradação do fruto. Fonte: adaptado de Oliveira Filho, J.G. et al., (2021)

 

Tecnologia da Bioplix para desenvolvimento de revestimentos comestíveis

 

A tecnologia da Bioplix é baseada na utilização de polissacarídeos ecológicos e provenientes de fonte renovável (biomassa de resíduos da indústria pesqueira), caracterizados por apresentar propriedades cada vez mais demandadas para novos produtos nos dias atuais, tais como biodegradabilidade, biocompatibidade, ação antimicrobiana, não alergênico e segurança. Esses materiais são combinados com demais adjuvantes ecológicos com reconhecida capacidade de melhorar a conservação de alimentos. Os componentes das formulações são reconhecidos e aprovados para consumo pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), bem como por órgãos reguladores internacionais, tais como a Administração Federal de Alimentos e Medicamentos dos EUA (Federal Drug Administration – FDA) e Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (European Food Safety Authority – EFSA).

Além de empregar componentes biodegradáveis e aprovados para consumo, derivados de fonte ecológica e renovável, sem impactos ao meio ambiente e para a saúde, a tecnologia da Bioplix apresenta um custo compatível com sua eficiência, bem como é designada por um desenvolvimento comprometido com a responsabilidade ambiental, social e de governança (ESG – Enviromental, Social and Ambiental).

A Bioplix apresenta testes de funcionamento de mínimo produto viável (MVP) de revestimento para o tomate, com resultados bastante promissores, já sendo possível manter esses frutos aptos para o consumo por até 30 dias, permitindo agregar um maior tempo de conservação até três vezes maior do que o fruto sem nenhum tipo de tratamento.

Estudo comparativo da Bioplix de amostras de tomates tratados com revestimento comestível e amostras sem tratamento. Fonte: autor.

Os estudos preliminares de aplicação do produto ainda no estágio pré-colheita de tomates vêm obtendo também resultados bastante positivos, principalmente em relação ao maior tempo de conservação através da formação de uma camada protetora que protege o fruto de degradação provocada por processos de proliferação de microrganismos (tais como fungos, bactérias e vírus), processos fisiológicos e danos mecânicos.

Realização de testes de aplicação do revestimento no estágio pré-colheita de tomates em lavoura de produtor rural parceiro da Bioplix. Fonte: autor.

Eng. Químico Paulo S. Rui Dias, o CTO da Bioplix, realizando ensaios físico-químicos de qualidade dos revestimentos comestíveis.

A tecnologia de revestimentos comestíveis da Bioplix apresenta elevado potencial disruptivo, pois, os segmentos ligados ao pós-colheita sofrem com perdas e prejuízos devido às alternativas extremamente limitadas na viabilização do prolongamento do tempo de prateleira de FLV durante a armazenagem e transporte. Em processos de exportação marítima, que requerem longos períodos até com que a carga chegue ao seu mercado de destino (tais como o mercado europeu, asiático, norte americano entre outros), é um problema recorrente as perdas e prejuízos financeiros causados pela degradação dos alimentos que poderiam ser evitadas através da utilização de revestimentos comestíveis.

 

Tecnologias concorrentes e diferenciais dos revestimentos comestíveis

 

Os principais produtos concorrentes são compostos à base de ceras naturais ou sintéticas, conservantes químicos tóxicos e proibidos para consumo, absorvedores de gás etileno, condições de refrigeração e de atmosfera controlada, recobrimentos à base de substâncias extraídas de cascas de frutas. Apesar de apresentarem a mesma finalidade (que é promover maior tempo de prateleira), estes produtos são responsáveis por resolver de forma parcial os fatores relacionados ao problema. Portanto, a principal diferença dos produtos concorrentes em relação aos revestimentos comestíveis reside no alinhamento de eficiência técnica voltada de forma mais abrangente para os fatores que provocam a degradação dos alimentos, sendo eles: metabolismo do fruto, microrganismos, perda de água e compostos voláteis e barreira física e química que retarda processos oxidativos. Além disso, tem-se uma atuação voltada constantemente na garantia da viabilidade financeira da tecnologia de forma que o seu uso seja praticável pela cadeia pós-colheita, especialmente pelos exportadores e varejistas de frutas, verduras e legumes.

 

Tendências de mercado e desafios do setor pós-colheita

 

Os produtos agrícolas frescos, incluindo frutas, verduras e legumes, permanecem como tecidos vivos e sofrem metabolismo mesmo após a colheita. O seu valor nutricional, segurança microbiana, sabor e aparência deterioram-se durante o armazenamento e transporte devido à maturação, perda de água, danos microbianos e danos no armazenamento pós-colheita. Como resultado, mesmo com a aplicação de técnicas de conservação, uma quantidade elevada de alimentos valiosos é perdida, e com isso seu valor comercial também é reduzido. Estima-se que cerca de 40% de todos os alimentos destinados ao consumo humano acabam como resíduos nos países desenvolvidos. A redução das perdas permite aumentar a disponibilidade de alimentos e promover a sustentabilidade ambiental. Consequentemente, as tentativas para reduzir as perdas alimentares e manter a qualidade dos produtos frescos durante um período mais longo são de alta prioridade, existindo várias abordagens para garantir a segurança e a qualidade dos produtos frescos.

As perdas e prejuízos ocasionados pelo tempo de conservação limitado de frutas, verduras e legumes causam o aumento dos preços, prejudicam o agronegócio e diminuem a oferta de alimentos, impactando de forma grave a população, os setores de varejo e exportação, bem como os produtores rurais. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), no Brasil, estima-se que, entre a colheita e a chegada à mesa do consumidor, ocorram perdas de até 40% das frutas e hortaliças produzidas. Essas perdas podem ser de natureza quantitativa ou qualitativa, ocasionando assim redução no seu valor comercial.

O Eng. Químico Dionata Vieira Rodrigues (dir.), o COO da Bioplix, responsável pelas áreas comercial e de marketing, durante apresentação do produto na Expointer, maior feira do agronegócio da América Latina.

Em 2019 houve o movimento de cerca de 16,8 milhões de toneladas de frutas e hortaliças, injetando mais de R$ 36 bilhões na economia brasileira (SNA, 2019). As exportações brasileiras de frutas estão em franco crescimento. O faturamento superou US$ 1,21 bilhão, sendo 20,4 % acima do computado até dezembro de 2020. O volume total de frutas frescas enviadas ao exterior foi de 1,24 milhão de toneladas (MAPA, 2022). Considerando o percentual médio de perdas no estágio pós-colheita, estima-se prejuízos na ordem de R$ 24 bilhões anualmente. Observa ainda que durante os anos de 2020 a 2030, haverá grande crescimento de oportunidades para os revestimentos comestíveis no mercado de ingredientes voltado no prolongamento do tempo de prateleira, de acordo com a Transparency Market Research, 2020.

O Brasil é o 23º exportador de frutas do mundo em um cenário que está em ascendência. O país é também o 3º maior produtor desse segmento, competindo com Rússia, Índia e China, países membros do BRICS e considerados as três das maiores populações do mundo. O mercado total (TAM) de exportação de frutas no Brasil movimenta US$ 1,1 bilhão e cresce em torno de 18% ao ano. No contexto das redes supermercadistas o cenário é grave, com perdas médias de 30% das frutas, verduras e legumes, gerando prejuízos na ordem de R$ 382 milhões por ano no segmento, de acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS, 2021).

 

Benefícios do uso de revestimentos comestíveis para a cadeia produtiva e para a sociedade

 

Os novos revestimentos comestíveis biodegradáveis propostos pela Bioplix possibilitam garantir a qualidade do alimento por mais tempo, atuando com funções relevantes que promovem controle sobre a perda de massa, confere proteção mecânica (pois a película formada atua como uma barreira física) durante o transporte e traz a preservação dos aspectos visual e sensorial por maior tempo, reduz a desidratação e inibe os microrganismos responsáveis pela degradação. Esses aspectos trarão para a cadeia produtiva e sociedade:

  • Redução dos custos operacionais (tais como condições de refrigeração ou de atmosfera controlada) e permitirá a redução das perdas associadas à falta de alternativas efetivas, viáveis e factíveis para viabilização do prolongamento do período de estante;
  • Sob o ponto de vista social: a tecnologia permitirá com que os alimentos cheguem até o consumidor com melhor qualidade, trazendo de forma direta e indireta condições que favorecem melhor bem estar das pessoas;
  • Sob o ponto de vista ambiental: o emprego da solução ecológica e de fonte renovável da Bioplix reforçará os aspectos de responsabilidade ambiental dos clientes que integram a cadeia produtiva que fizerem uso dessa tecnologia, pois estarão agregando aos seus produtos as condições intrínsecas dos nossos revestimentos comestíveis (qualificados como biodegradáveis, atóxicos, sem impactos ao meio ambiente e à saúde das pessoas).

 

Demais tecnologias do portfólio da Bioplix

 

Além dos revestimentos comestíveis, a Bioplix realiza a obtenção dos polissacarídeos quitina e quitosana, caracterizados como produtos de primeira e segunda geração. Esses materiais podem ser extraídos do exoesqueleto de crustáceos e apresentam grande potencial, pois podem ser empregados como insumos que agregam propriedades cada vez mais demandadas por diferentes segmentos industriais e agronegócio (são biodegradáveis, obtidos de fonte renovável, possuem ação antimicrobiana, são materiais não-tóxicos e não causam impactos ao meio ambiente e à saúde).

Além dos polissacarídeos e revestimentos comestíveis, a Bioplix possui uma plataforma tecnológica com potencial para ser derivada em novas soluções como formulações para as áreas de tratamento de sementes, possibilitando melhor resistência e maior produtividade agrícola durante cultivo, e novos fertilizantes com liberação controlada de nutrientes.

 

Sobre o autor

Luan Rios é co-fundador e CEO da startup Bioplix PD&I. É responsável pelas áreas de gestão e pesquisa e desenvolvimento. Com graduação em Engenharia Química pela Universidade Luterana do Brasil – ULBRA (2019), é mestrando em ciência e tecnologia dos materiais pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais (PPGE3M) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), vinculado ao Laboratório de Biomateriais e Cerâmicas Avançadas (Labiomat). Possui experiência em processo químico de transformação de resíduos da pesca em produtos, abrangendo dimensionamento de planta de processamento, obtenção de biopolímeros, revestimentos comestíveis para hortifrutigranjeiros, desenvolvimento de biomateriais, novas tecnologias para tratamentos de efluentes, novos insumos ecológicos para formulação de cosméticos e sistemas de liberação controlada de nutrientes para novos fertilizantes.

 



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